Temos visto com preocupação e assombro os testes que o Governo do Estado e a Prefeitura de São Paulo, por meio da GCM (Guarda Cilvil Metropolitana) vem fazendo sobre onde "fixar" o fluxo da chamada Cracolândia, entre os bairros Santa Ifigênia, Luz e Bom Retiro.
A aglomeração de pessoas em situação de rua (entre as quais muitas usuárias de substâncias psicoativas), é um fenômeno espontâneo da população, especialmente nas regiões centrais. Ela é resultado de miséria, carência de moradia e de acesso a direitos básicos.
Congrega uma série de questões relativas às políticas de saúde e de drogas. Afeta a vizinhança e o comércio e põe em questão o planejamento urbano e sua interface com o mercado imobiliário.
Desde o segundo semestre de 2022, Estado e Prefeitura adoraram uma estratégia de dispersão constante do chamado fluxo, que não apenas não funcionou como implicou na tortura daquela população: imagine ser "empurrado" de um lugar para o outro com balas de borracha e bombas de gás, duas a três vezes por dia, às vezes a noite, e ter todos os poucos bens, como cobertores, roupas e documentos pedidos nessa movimentação.
Os conflitos gerados pela dispersão do fluxo parecem forçar o poder público a mudar de estratégia, buscando um novo único ponto de concentração para o fluxo. Embora isso seja positivo no âmbito da redução de danos e do cuidado, a forma como está sendo feita é totalmente equivocada.
Preocupa-nos ainda que os pontos escolhidos não estejam sendo estudados de forma transparente, em conjunto com a população local e com as organizações da sociedade civil que ali atuam, pois isso implica desperdício de conhecimento de quem já está ali há anos.
Implica também um estremecimento do vínculo que os serviços de assistência (público ou da sociedade civil) têm com os usuários, que passam a se tornar mais difíceis de encontrar. Consterna-nos especialmente que a definição dos locais de concentração siga critérios centrados apenas na segurança pública e esteja influenciada por uma lógica higienista, ao invés de favorecer também o acesso a políticas públicas sociais, culturais e de saúde para as populações mais vulneráveis.
Segundo notícia da Folha de São Paulo no dia 08/07/23, a Prefeitura não se pronunciou sobre o deslocamento da madrugada de sábado para domingo, para um espaço bem mais isolado, sob a ponte na Marginal Tietê. Trata-se de um movimento inédito e que tira os usuários da vista e da proximidade das áreas centrais, concentrando a assistência num complexo único, de forma isolada de outros equipamentos e iniciativas relevantes para aquela população, além de ser um espaço muito inóspito para pedestres.
Embora os usuários sigam se movimentando, aguardamos um pronunciamento e um plano que implique as escolhas e as vincule a práticas não apenas de violência, mas de cuidado.
A Craco Resiste
Birico
Coletivo Tem Sentimento
Pagode na Lata
Teatro de Contêiner Mungunzá / Cia. Mungunzá de Teatro
Teto Trampo Tratamento
10/07/23 - Matéria do Jornal Hoje da TV Globo sobe "A dispersão da Cracolândia no Centro de SP"
LEIA AS MATÉRIAS NA ÍNTEGRA CLICANDO NAS IMAGENS
04/07/23 - Folha de São Paulo
08/07/23 - Folha de São Paulo
09/07/23 - Folha de São Paulo